Olá, pessoas! Tudo bem?
A resenha de hoje é de um livro que fala de um tema um pouco pesado, que é o tráfico de drogas no Brasil.
O livro Cabeça de Porco foi criado baseado em várias entrevistas que Luiz Eduardo, Mv Bill e Celso Athayde fizeram em favelas por todo o país. São várias histórias reunidas onde os autores contam um pouco sobre a vida deles mesmos e relatos de toda a trajetória que fizeram durante as pesquisas.
Encontramos relatos de crianças e adolescentes que entraram para o tráfico de drogas porque não tinham outra opção e precisavam ajudar suas famílias. Nesse livro, junto com outros dois livros dos autores (Falcão – Meninos do Tráfico e Falcão: Mulheres do tráfico) recebemos um baita tapa na cara e vemos que, às vezes, tudo o que pensamos em relação aos falcões são puro preconceito, nem todos os meninos que se envolvem com o tráfico são bandidos, muitos acabam nesse meio porque realmente não tem opção, muitos querem sair, mas nem sempre isso é possível.
O que me deixou com mais raiva lendo esses livros (os outros 2 eu li em 2010) foi “ver” o quanto a polícia é corrupta e tem tanta culpa no cartório quando se trata de tráfico quanto qualquer traficante. Aí a gente fica pensando, se não podemos confiar nem na polícia, vamos confiar em quem?
Um trecho de um dos relatos, em Belém:
(…)alguém entregaria o dinheiro na DPO ou na viatura que ficaria entocada em algum ponto combinado. O que acaba sendo bom para quase todo mundo. Bom para o crime, que tem sempre seus soldados soltos; bom para os policiais, que conseguem aumentar seus orçamentos tão defasado; bom para a cúpula da polícia, que mantém seus subordinados durante anos em seus DPOs, garimpando e trazendo recursos para as unidades; bom para o Estado, que não precisa prender, julgar e gastar mais dinheiro com burocracias.
Só é ruim mesmo para a população brasileira, que está à mercê de toda essa desgraça sem culpados, sem inocentes, sem saída, sem vergonha, sem querer. E o pior, sem saber.
(…) Celso perguntou ao dono da boca, que não tinha sido preso na noite anterior, como é que eles saíram… “O advogado do movimento foi à DP e pagou o resgate”, era a resposta. A ficha caiu. Silêncio total. Decepção, alegria, tudo misturado num caldeirão. Nos despedimos. Na volta, uma pergunta me intrigava (até quando vai me intrigar?): o Brasil tem jeito?
É triste ler todos esses relatos. A gente acaba se sentindo impotente em relação a toda a violência que temos vivido. O livro foi escrito em 2003 e tudo que é retratado continua acontecendo, porém agora, 13 anos depois, em uma escala muito maior. Isso me apavora, onde vamos parar?
Confesso que fiquei um pouco decepcionada com esse livro, pois esperava algo mais parecido com os outros dois citados acima. Achei super interessante até metade do livro, depois na minha opinião começaram com “filosofias” demais e isso acabou se tornando um pouco maçante, para mim, pelo menos. Queria ler mais relatos das favelas. Mas de qualquer forma ainda é um livro um tanto chocante, não tanto quanto os outros dois, mas ainda sim totalmente relevante.
Frases do livro:
Estava todo mundo relaxado, como se a guerra entre todos eles já tivesse acabado. Mas, não, a guerra desses jovens é corrente, diária, nem sempre lógica, e quase sempre sangrenta. Não há espaços para ternura; acabou o afeto. Só restou o ódio.
Disse que todo mundo acha que dar esmola ou abrir uma creche para dez crianças é uma maneira de livrar a alma do inferno, mas que só conhece a real situação da miséria quem a vive. “A maioria” – ele disse “maioria” levantando a voz como quem tencionasse deixar claro que não estava falando de todos – , “a maioria tem necessidade imediata de comer, não de estudar. Todo mundo fala que esses jovens tinham que estar na escola”, ele continuou. “Como?”, perguntou nervoso. (…) Ele dizia o que o Miguel tinha me dito em São Paulo: que é preciso vontade de trabalhar, de lutar, de viver, e isso é algo que tem que ser ensinado.
Ali eu via claramente o quanto a televisão contribui e contribuiu para a nacionalização da criminalidade; como a televisão massifica e acaba estimulando as pessoas a fazer o que se estampa na tela. Não estou dizendo que aquele cara seja bandido por causa da TV, estou dizendo que a forma como as TVs divulgam as notícias acaba sendo a maior fonte de alimentação para esses jovens, que já têm tendências sociais a essas práticas a partir de seus desejos e de suas limitações. A TV consolida a informação e as posições deles.
E vocês, já leram esse livro? Acho que ele não é muito conhecido, mas é muito interessante.
Beijos
Vocês pode comprar o livro nos sites:
No Submarino e Americanas está esgotado.
Julguei pela capa primeiro! Bem diferente de tudo que ja vi, sinceramente!
Depois, não gosto de livros muito filosoficos, como você mesmo disse. Acaba tirando nossa atenção sem mesmo perceber, estamos lendo só por ler mesmo!
Visite!
Um abraço! <3
Obrigado pelo seu resumo do livro. O mais chocante é constatar que, aparentemente, nada dessa realidade melhorou.